quinta-feira, 31 de julho de 2008

Capítulo 31

Capítulo 31

Finalmente, quinze dias depois, tudo estava pronto, Vicente perdera os cálculos, mas o rascunho que estava de posse de Joaquim o orientou. Rapidamente fez algumas projeções e mesmo sem a precisão que esperavam anteriormente, decidiram que não havia mais o que fazer. Combinaram esperar o tempo melhorar, estava chovendo muito e não havia mais pressa.
Foram apenas dois dias de espera e logo o céu parecia ansioso para ver o que aconteceria, o sol se manifestou favorável e as noites eram estreladas. No dia combinado, Agamenon vestiu o terno quer usava quando voltava pra casa, pegou sua maleta de mão, deu um grande beijo em Heloisa. Com os olhos cheios de lagrimas, ele falou ao ouvido da moça.
- Venha comigo! Sei que caberá nos dois na esfera.
- Não posso...! – Ela falava entre soluços – Você sabe o que tem passado, suas angustias, seus medos, esse mundo o incomoda. Para mim, seria ainda pior, estaria completamente na sua dependência.
- Podemos encontrar a felicidade...
- Já encontramos, mas suas razões o impedem de continuar nela! Se eu fosse com você, o mundo estranho seria para mim, não teria nada além de você. Com o tempo, o sufocaria e me sentiria prisioneira. Um dia, poderia cobrar de você as minhas ansiedades, saudades e frustrações.
- Então! Pelo menos me acompanhe até o momento final.
- Seria masoquismo. Prefiro guardar você aqui dentro de mim. Ter no meu coração a ilusão que voltaremos a nos encontrar. Se estivesse presente quando você desaparecer de uma vez por todas, acho que morreria. Prefiro continuar vivendo.
Eles se beijam mais uma vez por alguns segundos, ela delicadamente o empurra para fora do quarto e quando fecha a porta, se joga na cama, pega o lençol e o travesseiro onde ele deitara a cabeça, cheira, beija enfiando o rosto entre as mãos tentando conter as lágrimas silenciosas que brotam em abundancia dos seus olhos.
Vacilante e meio atordoado, Agamenon desceu para a recepção onde Joaquim já o aguardava. Despediu-se de Fausto saindo com o Advogado que o conduzia lentamente, segurando-o pelo braço, fazendo dele um cego que não sabe o caminho. Na porta viu Andrade que acenava ao lado de uma caminhonete.
- Bom dia doutor! Eles me convenceram a dar uma ajuda! Consegui essa caminhonete lá na delegacia. Vão na frente, não sei o caminho.
Agamenon entrou no carro de Joaquim com a sensação de quem vai para a câmera de gás ou cadeira elétrica. Assim que deram partida, ele se voltou para contemplar a imagem do hotel que aos poucos desaparecia entre outros prédios.
Ao chegarem no local onde deveriam instalar os acumuladores, não perderam tempo, Joaquim, Agamenon e Andrade, não encontraram muita dificuldade para descarregar o material, Vicente que estava encolhido no assento do carro de Joaquim, saltou com preguiça olhando os últimos detalhes de suas anotações numa prancheta. Aproximou-se dos acumuladores, com uma chave de fenda, fez uns ajustes.
- Ainda bem que estamos longe dos olhares curiosos! – disse Joaquim com ar pensativo olhando em volta.
- Só falta testar a carga! – Disse Vicente com ar de triunfo.
- Pega esse aparelho ai junto do carro. – Gritou Joaquim para Andrade que estava fumando junto da caminhonete.
Agamenon observava tudo com ar desconsolado, As duvidas em sua cabeça ainda eram intensas. Seu coração pedia para desistir de tudo e ficar com a paixão de Heloisa, sua razão o empurrava de volta ao seu tempo. Quando o chamaram para entrar na esfera, ele quase não consegue sair do lugar. Vicente se aproximou.
- Só depende de você! Os riscos que corre são por sua conta. Se quiser continuar, estamos prontos.
- Vamos lá! – disse de maneira decidida Agamenon que suspirou profundamente antes de entrar e se acomodar na esfera.
Mais uma vez, todos apertaram sua mão se despedindo e quando Andrade que fora o ultimo ia se afastando e Joaquim fechava a esfera, Vicente fez um sinal com a mão e gritou com a voz tremida de emoção.
- Não esqueça, tem de sair da esfera logo. Tem dois minutos!
Agamenon sorriu acanhado acenando um adeus, Joaquim fechou a esfera. Vicente respirou profundamente, acendeu um cigarro e disse olhando para os outros.
- Também nós, só vamos ter dois minutos para nos afastarmos da área de ação do campo magnético.
Ele se abaixou e começou a girar os interruptores dos acumuladores e quando viu que estava no ponto, apertou um botão vermelho em uma caixa ao lado, se afastando rapidamente para onde os outros estavam. Em poucos segundos, pequenos raios pareciam se cruzar sobre os acumuladores que trepidavam. Os olhos de todos pareciam grudados na esfera, aos poucos uma grande onda de luz partiu dos bornes dos equipamentos em direção ao ponto onde estava Agamenon.
Diante de todos, a esfera desapareceu por algum tempo, Vicente segurava o peito arfando com o cigarro preso nos lábios, Joaquim com os olhos arregalados cuspia para o lado o tempo inteiro e Andrade se deixou cair sentado no chão com a boca aberta.
Durante os poucos minutos de espera, todos sentiam que parecia uma eternidade até que a esfera começou a se materializar novamente no mesmo local de onde desaparecera. Eles se olharam apreensivos e Andrade perguntou com ansiedade.
- Ele foi?
Vicente deu de ombros, Joaquim sorriu olhando para os lados, faz uma expressão de duvida para Andrade que se apressa em aproximar-se. Vicente, com a cabeça, indica a esfera. Arregalando os olhos, dá de ombros se encaminhando lentamente em direção a esfera como quem tem medo do que vai encontrar.
Todos sabiam que não seria possível garantir qualquer coisa, no entanto a decisão havia sido de Agamenon, a sorte estava lançada.
FIM 01 - Se quiser, continue lendo, amanhã poderá ter um outro final.

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