segunda-feira, 28 de julho de 2008

Capítulo 28

Capítulo 28

Ao retornar para o hotel, Agamenon senta na recepção com esperança de ver Heloisa, seu coração palpita toda vez que uma mulher passa pela porta ou o telefone toca. Enquanto espera, lê os jornais e revistas que estão a disposição dos hospedes. Pouco depois de nove e meia, Fausto olha para ele com curiosidade e o médico aproveita a deixa.
- Heloisa...?
- Se tiver esperança dela aparecer, esqueça!
Desanimado, ele sobe para o quarto, toma um banho, senta em frente da televisão desligada e fica pensativo diante da sua imagem refletida no vídeo.
“Acho que ela tem razão! Não posso machucar uma pessoa que entrou na minha vida e me encantou. Por outro lado, preciso voltar para meu tempo real, isso aqui é estranho, não consigo me sentir em casa. Claro que existe a possibilidade de tudo dar errado, posso até morrer. Também poderia ficar, começar tudo novamente, freqüentar a universidade algum tempo, me atualizar. Isso tudo é pesadelo, preciso acordar, sentir pela manhã o cheiro de café saindo do coador, no fim da tarde o sino da igreja anunciando a hora da missa... Não sei, estou muito confuso!”.
Sabendo que não vai conseguir dormir de tanta ansiedade e excitação, pega na maleta o frasco de remédio para dormir, toma mais um comprimido, troca de roupa, deita na cama, liga a televisão.
Durante o resto da semana, ele e Joaquim se ocupavam em preparar tudo que precisavam para a sua volta no tempo enquanto Vicente, ainda muito debilitado, dava instruções e se ocupava dos cálculos diante do computador. De acordo com o projeto feito pelo Físico, cortaram uma janela de mais ou menos uns cinqüenta centímetros e instalaram um suporte isolado com borracha que servia de pé ao sinalizador. O médico experimentou para ver se cabia na bola, com relativo conforto Todos riram muito com a dificuldade que ele encontrou para sair. Joaquim sempre muito espirituoso não perdeu a oportunidade.
- Treina direitinho, caso contrário, vai virar bola de jogo de futebol.
Toda a operação já estava preste a ser concluída, quando Vicente lembrou que deveriam lubrificar os contatos dos acumuladores. Com muito esforço devido ao peso do equipamento, Joaquim e Agamenon, começaram a desmontar a cobertura que protegia o acumulador. Como o espaço era muito apertado, resolveram que ficariam mais confortáveis na garagem.
- Não dá pra carregar. Vamos colocar ali! – Disse Agamenon apontando para um carrinho de mão.
Depois de muito sacrifício, conseguiram levar os dois acumuladores para a garagem onde trabalharam o restante do dia lixando contatos elétricos, borrifando lubrificantes e apertando parafusos. Pouco antes das cinco e meia da tarde, Joaquim olhou para o relógio e exclamou com expressão de preocupação.
- Vamos embora! Amanhã terminamos.
- Vou tomar um banho!
- Não dá tempo, combinei com Clara que iríamos ao concerto da Sinfônica. Toma banho no hotel!
Sem perder mais tempo, cobriram os equipamentos com uma lona, pegaram pedaços de estopas para limpar as mãos e foram se despedir de Vicente que trabalhava freneticamente nos cálculos diante do computador.
- Vamos indo! – Gritou Joaquim, da porta do galpão.
- Venham cá! Não vai demorar. Tenho Feito exaustivamente esse calculo e não combina. – disse Vicente acenando para os dois chamando para se aproximarem. Quando eles chegaram, ele olhou com ar de cansaço para Joaquim - Vou imprimir uma cópia e você dá uma olhada, amanhã terá tempo de sobra, não vamos trabalhar, Lucia disse que vai fazer uma faxina.
Sem perder tempo, imprimiu uma cópia do que queria e entregou para Joaquim que ainda estava com o pedaço de estopa na mão. Vicente estendeu a mão tomando-a de sua mão, jogou displicente num cesto de lixo que estava cheio de papeis amassados e pontas de cigarro. Agamenon acabou de limpar suas mãos, jogando a sua estopa no mesmo cesto de lixo e juntos saíram do galpão. Na porta, Vicente deu uma tapinha no ombro do médico.
- Vamos descansar amanhã e logo depois faremos a ultima simulação e só faltará determinar o dia exato da experiência final. Será seu grande... não! Nosso grande dia! Ainda vou fazer umas anotações e depois vou descansar. Desapareçam!
No caminho de volta pra casa, Joaquim parecia preocupado. Ligou o rádio do carro abriu e fechou os vidros varias vezes, parecia realmente inquieto e despertou a atenção do médico que perguntou curioso.
- Algum problema?
- Vários! Primeiro preciso pensar como vamos transportar o equipamento, depois, encontrar alguém de confiança para nos ajudar. Só nós dois, não vamos conseguir fazer tudo.
- Se me ocorrer alguma idéia, telefono!
- Também estou preocupado com Vicente!
- Está cansado e ainda não se recuperou totalmente!
- Isso mesmo! Já o peguei dormindo na cadeira duas vezes.
- Isso é natural! Os remédios provocam sonolência.
- Espero que realmente, descanse amanhã!
Agamenon se assusta quando ouve um telefone tocar. Olha para os lados sem entender muito bem de onde vem o ruído. Joaquim retira do bolso um pequeno aparelho e atende.
- Sei...Estamos indo!
Desligando o aparelho, Joaquim acelera o carro. Agamenon vê a expressão angustiada do advogado e pergunta.
- Alguma coisa errada?
- Minha irmã... Ela morreu! Fausto acabou de ligar do hospital.
O enterro foi no dia seguinte pela manhã. Uma chuva fina caia como se o céu chorasse junto com Joaquim, Fausto e Heloisa que se abraçavam a todo instante sob guarda-chuvas negros e grandes. Acabando o sepultamento, Agamenon se aproximou de Heloisa, estava com muita saudade da moça e sentia uma dor no fundo do coração a cada olhada dela em sua direção.
Não foi necessário dizer qualquer coisa, ele se atirou em seus braços soluçando. Ele a abraçou com carinho sentindo seus olhos fraquejarem com lagrimas que suavemente escorriam pela face. Inesperadamente, Fausto se aproximou dos dois e com a voz embargada por um choro contido, disse em tom de súplica para o médico.
- Leve ela daqui! Pelo amor de Deus, leve ela com você para algum lugar longe daqui.
Joaquim se aproximou abraçando Fausto e em seguida olhou para Agamenon com um sorriso triste na face.
- Vá andar pela praia. Deixe o barulho do mar esconder o choro dessa menina!
Sem perder tempo, Agamenon segurou a mão de Heloisa e a puxou pra o lado de fora do cemitério fazendo sinal para um táxi. Ele não sabia ao certo para onde ir, mas olhou o motorista que aguardava o endereço.
- Para uma praia perto..., onde seja possível caminhar muito!
Durante o percurso, Heloisa se encolheu no peito do médico que acariciou seus cabelos sentindo uma angustio imensa e sem saber o que dizer. O motorista estacionou a beira mar. O médico pagou a corrida e saltou com Heloisa que parecia alheia ao local onde estava. O mar estava calmo, a chuva havia cessado mais o tempo muito nublado, escondia o sol.
Os dois retiram os sapatos e caminharam de mãos dadas em silencio por um bom tempo pela praia deserta. Demonstrando cansaço, Heloisa jogou os sapatos no chão sentando-se com o olhar perdido no horizonte. Agamenon não ousou interromper os pensamentos dela, sentou-se ao seu lado se perdendo em seus pensamentos conflitantes. Queria ir embora, retomar seu verdadeiro mundo, ao mesmo tempo, seu coração lhe dizia pra ficar com aquela que lhe acendeu uma fogueira no peito.
Quase meia hora depois, Heloisa deu uma gargalhada nervosa, se jogou novamente nos braços do médico que a envolveu carinhosamente.
- Vamos voltar! Preciso de você e do seu carinho. Não vou sofrer mais, apenas viver. A morte me mostrou que tenho de viver intensamente o que me resta. Se você vai embora, o que vivemos juntos vai ficar. Minha mãe foi embora, mais meu amor por ela, ficou comigo.
- Primeiro vamos almoçar. Vi um restaurante logo ali! – Agamenon apontou para o local por onde haviam passado alguns minutos antes.
A moça deu de ombros e se deixou acariciar mais um pouco. Ele levantou-se sacudindo a areia dos fundilhos, estendeu a mão para ela e juntos voltaram caminhando abraçados pela beira da praia, vez por outra tendo os pés lambidos por uma onda mais afoita.

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