domingo, 27 de julho de 2008

Capítulo 27

Capítulo 27

Durante o resto do dia, a chuva caiu sobre a cidade e só amenizou pela madrugada. Agamenon com insônia andava no quarto de um lado para o outro olhando o relógio com ansiedade. Cansado, depois das três horas da manhã, sentou-se na poltrona ao lado da janela e se deixou contemplar o céu escuro e ouvir o ruído da chuva no vidro da janela. Adormeceu sem notar.
Em sua mente começou a se formar imagens soltas, ele se viu de volta a faculdade, todos os colegas jovens pareciam gargalhar dele, o apontavam, e cochichavam com expressões maliciosas. Repentinamente, via Dora despedida correndo no meio da rua ao encontro de seu irmão Arquimedes que a beijava ao encontrá-la.
Um enterro estranho, onde as pessoas carregavam o caixão na cabeça, passava pelos dois e vinha em sua direção. A tampa do ataúde se abria e Hermes com cara de menino pulava pra fora e saia para o lado, correndo, apontando em sua direção. Um carro passava veloz o jogando para o alto, ele flutuava subindo muito e quando começou a cair ouviu seu nome sendo dito com carinho algumas vezes. Viu o roso de Heloisa ao seu lado se desmanchando, ela parecia sofrer. Acordou dando um pulo da poltrona se batendo de encontro à parede.
Não conseguiu mais se tranqüilizar seu coração batia muito acelerado. Assim que amanheceu, tomou um banho demorado e desceu até a rua para esperar Joaquim, na passagem pela portaria, olhou para Fausto que fez um sinal negativo com a cabeça. Ainda chovia, ele recostou-se na porta olhando a rua que começava a ter algum movimento. Quando viu o carro do advogado, teve um sobressalto se engasgando, tossiu um pouco procurando respirar profundamente.
Assim que Agamenon entrou e apertou sua mão, Joaquim, foi logo pegando um envelope contendo algumas folhas de papel, que estava sobre o assento do carro, entregando para o médico.
- Pronto, já é um homem vivo novamente! O desgraçado queria pedir teste de DNA.
- Teste de DNA?
- Me esqueci que na sua época, isso era uma fantasia. Hoje se faz com a maior facilidade. Pega um pedaço de você e outro de um filho, pai ou mãe e... pronto. O laboratório entrega o resultado em pouco mais de vinte dias. Mas não será necessário se preocupar com isso. A sentença deverá ser publicada no Diário Oficial, na próxima semana.
Enquanto dirigia, Joaquim se divertia vendo a expressão do médico lendo a sentença que parecia queimar em suas mãos. Quando finalmente Agamenon guardou os papeis de volta no envelope ele explicou o que significava aquela sentença.
- O juiz dá parecer sobre o processo, faz os comentários. Daí por diante, o processo é concluído quando chega a publicação do Tribunal fazendo o reconhecimento na sentença final. De posse dessa publicação, você pode requerer junto aos órgãos que lhe forem convenientes a sua integração. No seu caso, se fosse ficar por aqui, seria o documento que o habilitaria perante o conselho de medicina.
- Tanto tempo perdido! Exclama o médico olhando o envelope em suas mãos.
- Nada disso! O tempo não se perde, nós é que podemos perdê-lo. Nesse caso, foi para mim, uma questão de satisfação.
- Tenho que pagar...
- Conversamos depois sobre isso!
- Preciso ler alguma coisa sobre o teste de DNA!
- Acho melhor esquecer!
Agamenon maneia a cabeça com ar de duvida. Os dois permanecem calados até a chegada ao sitio de Vicente que os recebe na varanda com ar um pouco abatido. Depois de confirmar que se sente bem, pega uma maleta e entra no carro. Prosseguem a viajem conversando sobre os detalhes da medição. Enquanto a chuva começa a cessar lentamente.

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