sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Capítulo 32

Outro final
Capitulo 32

Heloisa, em seu quarto parecia ter perdido a vontade de mexer o corpo. As lagrimas que corriam pela face já começavam a estancar embora seu coração disparasse com qualquer ruído. Havia descido para seu quarto logo depois que Agamenon partiu. Seu pai a obrigara a ir para casa depois que recusou a possibilidade de permitir que a moça ficasse na recepção. Ele, muito gripado, tossia e espirrava muito, mas não queria expor a filha ao contato do publico sabendo que ela estava muito mal com a perda da paixão.
Sentindo que a febre o atormentava demais, Fausto olhava o telefone pensando e chamar Heloisa para ficar um pouco no seu lugar enquanto tomava algum remédio, mas logo a idéia desaprecia de sua cabeça. O corpo parecia ter levado uma surra. Finalmente sem conseguir resistir, ligou para ela no final da tarde.
Heloisa chegou ainda com o rosto inchado da lagrimas que derramou. Lentamente ela se aproxima do balcão da recepção onde Fausto com aspecto cansado, coçando o nariz irritado, sorri.
- Vai deitar, pai! Gripe se cura com repouso.
- Tem remédio no armário da cozinha?
- Tem! Pode ficar descansado, estou melhor.
Fausto se afasta com um olhar desconfiado na direção da filha, dá de ombros entrando no apartamento. Heloisa começa a pegar alguns papeis que estão desarrumados numa prateleira abaixo do balcão. Seus pensamentos superam o que está diante dos olhos e se perdem rapidamente. Ela suspira voltando a chorar com a lembrança que vem muito intensa.
“Ah! Agamenon...!”.
Deita a cabeça sobre os braços cruzados acima do balcão e mais uma vez suspira profundamente, “Ah! Agamenon, Agamenon...!”.
- Estou aqui! – Uma voz ao lado de Heloisa estremece seu coração, assustada ela se volta pensando ter sonhado de olhos abertos.
- Agamenon? Estou ficando louca, só pode...
- Não consegui deixar você pra traz!
Ela sai apressada de trás do balcão se atirando nos braços abertos do homem, que já não acreditava mais encontrar. Os dois se olham em silencio por um bom tempo, se acariciam com ternura e se beijam com paixão. Joaquim entra no hotel se deparando com o casal que parece ignorar onde estão.
- Meninos olhem o respeito!
Lentamente eles se separam, ainda se olhando com muito amor. Um hospede entra no hotel apressado, pedindo a chave do quarto, a moça enxuga com as mãos as lagrimas que voltam a rolar na face, volta para o balcão pega a chave entregando sem conseguir desviar o olhar do rosto de Agamenon.
- Moça, meu quarto é 304! – O hospede fala irritado olhando as chaves em sua mão.
- Me desculpe! – Heloisa sacode a cabeça, olha o escaninho das chaves, pega a que tem a placa 304 entregando para o homem que devolve a outra.
Joaquim solta uma gargalhada se aproximando dos dois e beija delicadamente a face de Heloisa e pergunta enquanto lhe acaricia o cabelo.
- Onde está seu pai?
- No quarto, com febre, gripe.
Joaquim dá uma tapinha no ombro de Agamenon, outro beijo em Heloisa e vai para o apartamento do cunhado. Assim que ele desaparece fechando a porta, a moça se volta para o médico com o olhar interrogativo.
- O que aconteceu?
- Estava dividido. Se por um lado queria voltar para me vingar, fazer meu irmão e minha mulher pagarem pela traição, retomar minha vida profissional e saborear a carreira de meu filho, por outro, queria os seus braços, seu olhar, seu amor. Na hora que entrei na esfera, não sabia mais se o desejo de voltar ainda valia a pena, só possuía a certeza que estava perdendo a mulher mais maravilhosa que poderia encontrar. O tempo que passei sentado ali dentro, sabendo que ainda poderia recuar da minha decisão, foi decisivo. Depois que vi pela abertura o laboratório ainda funcionando, soube que estava de volta em 1951, mas minha cabeça e meu coração estava no futuro. Teria de abrir a esfera e pular rapidamente para fora, me mantive quieto e retornei para seus braços.
- Vicente ficou frustrado?
- Um pouco, mas se contentou com minha informação que a experiência havia dado certo. Ele não poderá repetir suas anotações, projetos e informações, se perderam no incêndio do galpão, mas no intimo se sente vitorioso. Disse-me que não se importa muito quanto a divulgação do fato, e sim a certeza que sua teoria sempre esteve correta.
- Suba até seu quarto, tome um banho, descanse e me aguarde, tenho de esperar o rapaz que fica na portaria.
- Estarei esperando ansioso! – Agamenon sorri com malicia.
- Ainda tenho uma coisa seria para conversar com o senhor.
Ele tenta fazer com ela antecipe o assunto, ela dá um soco no peito dele e aponta para a escada com ares autoritários. Ele passa seus dedos suavemente nos cabelos da amada, a beija rapidamente e sobe as escadas com muita disposição, sentindo o vigor de um jovem.
Sem pressa, saboreando a água, Agamenon se demora no banho, faz a barba, deita na cama, enrolado apenas na toalha, liga a televisão apenas para ouvir ruído, se permite cochilar de olhos abertos. Pela primeira vez nos últimos dias, sua cabeça parece leve, sem qualquer remorso, preocupação ou dor.
Acorda algum tempo depois com Heloisa sobre seu corpo, completamente despida, se amam com muita intensidade. Depois que chegam ao prazer, ficam abraçados em silencio um escutando a respiração do outro. Heloisa acende a luz ao lado da cama, aproxima o rosto do de Agamenon o beija e fala sussurrando ao seu ouvido.
- Estou grávida!
- Tem certeza? – Agamenon dá um pulo sentando-se na cama – Tem certeza?
- Tenho! Você vai ser papai.
O rosto do médico se ilumina, ele fica sem saber onde colocar a mão no corpo dela que se espreguiça suavemente de maneira sensual. O futuro agora seria o seu maior presente, o amor ultrapassara todos os limites do raciocínio lógico. Agora sabia, o amor é um grande sonho para ser vivido intensamente sem que o passado seja um risco.

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